Os sonhos constituíram uma fonte de fascínio durante séculos. Desde a antiga crença de que os sonhos permitem prever o futuro, até a atitude mais moderna que procura determinar o significado dos sonhos. Todos nós sonhamos durante três ou quatro períodos do nosso sono de todas as noites. Se conseguirmos recordar os nossos sonhos, notaremos que parecem ser apenas um amontoado de imagens sem qualquer sentido, por vezes ligadas a uma emoção bastante forte ou a uma história não inteiramente lógica mas com alguma coerência interna.
Algumas pessoas pensam que os sonhos são pensamentos aleatórios em torno dos quais a nossa mente constrói uma história; outros pensam que o nosso inconsciente conta histórias a si mesmo. Na história da interpretação dos sonhos, eles sonhos já foram também considerados como mensagens de uma fonte espiritual, memórias do passado ou profecias do futuro.
A natureza livre dos sonhos perturbou muitos filósofos, incluindo Platão (c. 428-348 ), que escreveu que «em tos nós, mesmo nos homens, existe uma natureza bestial que espreita durante o sono».
Já na Idade Média, os eremitas que se retiravam da sociedade para se aproximarem de Deus pareciam ser particularmente afetados por sonhos eróticos. No entanto, estes sonhos eram muitas vezes considerados como tentações enviadas pelo Diabo, para desse modo afastar o eremita de Deus. Uma outra desculpa bastante conveniente para estes sonhos eróticos, era a teoria de que todos os sonhos significam exatamente o seu contrário —e portanto se o sonho era sexual podia ainda ser considerado como indicando uma pureza interior e uma alma imortal saudável.
Os sonhos Bíblicos
A bíblia contém muitos exemplos de pessoas que desejam saber o significado dos seus sonhos, relacionando estes sonhos com as visões dos profetas e as mensagens de Deus.
Talvez o sonho bíblico mais conhecido seja o do faraó egípcio que sonha com as sete vacas gordas seguidas de outras sete magras que comem as primeiras. O faraó sonha em seguida com as sete espigas boas que são devoradas por sete espigas finas trazidas pelo vento de leste.
A interpretação que José faz destes sonhos é a de que se aproximam sete anos de Abundância em toda a terra do Egito, e que a eles se seguirão sete anos de fome. Ao ouvir esta interpretação, o Faraó encarrega José de prover armazenamento dos cereais, possibilitando assim ao Egito sobreviver durante os anos de fome (Génesis 41:1-32.)
A Bíblia contém ainda sonhos que ensinam e educam — Deus apresenta a Pedro a visão de de um grande navio, como «uma grande folha cosida nos quatro cantos... onde se encontravam todos os tipos de bestas de quatro patas existentes na terra, e animais selvagens, e coisas rastejantes, e aves do ar». Uma voz diz a Pedro que mate e coma, mas ele recusa-se dizendo: «Nunca comi nada que fosse comum ou não estivesse limpo.» A voz diz-lhe em seguida: «Não chames comum àquilo que Deus limpou.» (Actos 10:10-17 .)Este sonho ensina a Pedro que deve pregar não só aos judeus como também aos gentios.
Um pedido sábio
O sonhos de Salomão, por Giordano (1632-1705), mostra Salomão pedindo a Deus sabedoria — «um coração compreensivo para julgar o Teu povo, capacidade de discernimento entre o bem e o mal».
Os sonhos do Faraó
Estes sonhos eram proféticos, chamavam a atenção para uma calamidade futura que poderia ser evitada no caso de os sonhos serem interpretados corretamente e se realizarem as ações adequadas. Um quadro do século XIX mostra José a explicar o Sonho do Faraó. Foi pintado por Jean Adrien Guignet (1816-1854).
Sonhos premonitórios
Muitas pessoas pensam que é possível sonhar com o futuro. Os sonhos podem, de facto, avisar sobre possíveis acontecimentos futuros, mas algumas pessoas tendem simplesmente a considerar estes sonhos como uma coincidência e não como sonhos premonitórios. Sonhar com um velho amigo na noite que precede um encontro fortuito com ele é uma situação bastante comum. No entanto, é difícil saber se nos limitámos a prever esse contacto ou se o amigo «recebeu» o nosso sonho. Os dois acontecimentos podem estar ligados ou ser puramente coincidentes.
Acontecimentos previstos em sonhos
Muitas pessoas afirmam ter sonhado que o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, viria a ser assassinado antes de tal acontecer — se bem que infelizmente ninguém pareça ter tomando nota do seu sonho antes do assassínio. Entre os milhões de sonhos que foram sonhados pelos americanos nas semanas que antecederam o dia 22 de Novembro de 1963, muitos terão incluído um automóvel caro, alguns o Presidente, e um pequeno número certamente a sua morte violenta. impossível saber quantos destes sonhos eram de facto premonitórios.
Segundo um amigo de Abraham Lincoln, este sonhou com o seu próprio assassínio anos antes de ter ocorrido. Lincoln sonhara ver um corpo na Casa Branca. Tendo perguntado de quem se tratava, disseram-lhe: «O Presidente, morto por um assassino.»
As pessoas que têm sonhos premonitórios
Muitas pessoas sonham com um desastre,
como a queda de de um avião, e mudam de voo por causa disso. Se o
desastre corre, tendem naturalmente a pensar que foram salvos pelo seu
sonho. Pergunta-se, no entanto, por que razão só essa pessoa é salva
pelo sonho — de facto, é provável que muitas pessoas tenham este tipo de
sonhos sem que nada aconteça na realidade.
Algumas pessoas parecem
mais capazes de prever o futuro nos seus sonhos e preocupam-se em manter
registos cuidadosos dessas suas previsões. Se tiver um sonho que o
perturbe, resuma-o num papel, escreva a data e guarde uma cópia selada
num lugar seguro. E faça-o antes de o sonho se tornar realidade, não
depois.
Os sonhos divinos de São Tomás de Aquino
O filósofo S. Tomás de Aquino (1224-1274) distingue entre as revelações divinas e os sonhos «supersticiosos». Segundo ele, «todos os homens sabem por experiência que os sonhos contêm alguma indicação quanto ao futuro. É portanto fútil negar a eficácia dos sonhos em adivinhação».
Sonhos criativos que fizeram história
Muitos artistas e cientistas encontraram nos sonhos inspiração para o seu trabalho. Isto acontece porque o inconsciente pode aceitar ideias que o consciente rejeita por parecerem demasiado estranhas.
Um poema inspirado num sonho
Os artistas usaram durante séculos nas suas obras as ideias que os seus sonhos lhes sugeriram. Uma tarde, o poeta Samuel Taylor Coleridge (1772-1834) adormeceu pensando na corte de Kubla Khan. Quando acordou descobriu que tinha centenas de linhas de um poema na cabeça, e começou imediatamente a escrevê-las. Ao fim de 54 linhas foi interrompido por «uma pessoa com um assunto de Porlock» — e quando voltou à sua secretária o resto do poema tinha desaparecido completamente da sua mente.
Voltar ao mesmo sonho
Robert Louis Stevenson (1850-1894) conseguia voltar noite após noite ao mesmo sonho. Sonhava com um certo Mr. Hyde que tomava um pó e se metamorfoseava no Dr. yekyll. Esta imagem do filme Dr. Jekyll and Mr. Hyde, rodado em 1931, mostra Mr. Hyde preparando o produto que usará para a metamorfose.
Sonhos inspiradores
Uma pintura intitulada Visão num Sonho, deve-se a Albrecht Dürer (1471-1528). Também pode permitir que os seus sonhos inspirem o seu trabalho criativo: se sonhar com um determinado local, tente desenhá-lo ou escrever uma descrição dele ao acordar.
Casos que marcaram a História
Depois de discutir histórias
sobrenaturais com Percy Bysshe Shelley, Lord Byron e o médico deste,
Mary Shelley (1797--1851) deitou-se e teve um sonho. No dia seguinte
começou a escrever Frankenstein ou o Prometeu Moderno, baseando-se no sonho da noite anterior.
Também
os cientistas têm sido inspirados pelos seus sonhos. O químico alemão
Friedrich Kekulé (1829-1896) visualizou a estrutura molecular do benzeno
depois de sonhar com uma fiada de átomos de carbono e hidrogénio
fechando-se em anel, de modo parecido a uma serpente engolindo a própria
cauda.
A história da interpretação dos sonhos apresenta muitas descobertas inspiradas ou acontecimentos previstos em mensagens do inconsciente.